O lugar onde se localizava era um dos mais maravilhosos que eu já havia visto: o lago Königssee, considerado o mais cristalino da Alemanha e uma das vistas mais fantásticas do mundo. Ele se estende entre as montanhas de picos nevados dos Alpes Berchtesgaden na Bavária. Estavamos à beira daquela água profundamente azul e exageradamente brilhante, tentados a mergulhar, estando frio ou não, naquele véu de cristal. E aparentemente não eramos os únicos chamados a desfrutar dele. Uma, entre as muitas àrvores que margeavam o lago, se inclinava de forma improvável de sua encosta, mergulhando os galhos mais compridos e suas folhas mais aventureiras nas águas geladas. O tronco se contorcia esforçado a mais de quarenta e cinco graus em direção ao lago e não fossem as poderosas raízes que o agarrava à margem certamente não o veríamos lá. Os mais corajosos de nós ainda desafiaram a força da àrvore e subiram no tronco desafiador para fotos arriscadas e uma dose moderada de adrenalina. Ele tremeu, mas não cedeu.
De todas as árvores nas margens do Königssee, é só dessa que lembro claramente. Existe algo no incomum que nos atrai. A assimetria nos seduz. O desafio do equilibrio nos encanta. E o nosso padrão de beleza frequentemente nos leva a contorções e distorções propositalmente provocadas.
Modelos em passarelas concentram seu ponto de equilibrio descentralizado, com o peso em uma só perna, enquanto cambaleiam em saltos agulha.
Arquitetos criativos se esforçam em cálculos complexos para manter em pé aquilo que, aparentemente, sem mágica iria ao chão.
Bailarinas fingem não perceber a gravidade e se estabelecem em poses graciosas, mas nada naturais, e graças a muita força e perseverança, sorriem, enquanto realizam o que parece impossível. Fingimos que vencemos as forças da física e, graças a cálculos exatos e muita teimosia, de certa forma, realmente vencemos.
E, de certa forma, a maioria de nós está estabelecido em uma pose improvável, seja essa chamada por médicos de deficiências ou pela sociedade de desfavorecimento ou limitações. Sim, talvez estivessemos mais confortáveis com ambos os pés no chão, incalculavelmente mais capazes não fosse o constante desafio de manter o equilíbrio ou meramente sobreviver. Mas muitas vezes nos encontramos numa pose da qual não podemos sair.
O que me leva a escrever tudo isto é que eu também fui estabelecida em uma pose complicada dessas.
Os médicos chamam a minha de escoliose, um desvio na coluna em forma de "S". Para ameniza-lo, recomendam uma cirurgia um tanto arriscada e sem garantias. A alternativa? Além da dor, a doença pode fazer com que órgãos internos sejam pressionados pela coluna. No meu caso, especialmente o pulmão direito tem sido afetado. A circulação também pode ser prejudicada. Cada vez mais frequentemente sinto formigamentos nas mãos e pés. A progressão possível é assustadora.
Não nasci como todos os outros e, muito embora a maior parte das pessoas sequer enxergue essa minha "deficiência", a vida é para mim também a todo tempo uma questão de manter o equilibrio e tentar manter-me em pé. Sempre há perguntas não respondidas. Eu não poderia fazer tanto mais se não tivesse que lutar constantemente contra a dor ou o cansaço ou a degeneração progressiva? E será que todos não sentem isso em algum momento da vida? Todos cansamos, todos trememos.
Essa luta para viver, mesmo quando tanto desmotiva e de todo lado somos pressionados, gosto de chamar de o desafio da bailarina.
Como disse, fingimos que vencemos as forças da física e, graças a planejamento e muita teimosia, de certa forma, realmente vencemos. A perseverança em manter esse equílibrio dói, rouba-nos energia e concentração, mas vale o esforço. Sorrimos enquanto sofremos, porque podemos. Assim como a bailarina se mantém um longo tempo em sua contorção graciosa, nos gloriamos na maravilhosa improbabilidade de vivermos em condições tão adversas e ainda alegremente. Os músculos tremem, o fôlego some, mas mantemos a posição improvável. Talvez, por teimosia ou pela pura alegria de conseguir.
O que me reconforta é saber que esse desafio torna tudo simplesmente tão mais lindo. Há propósito na tribulação. E há algo artístico em viver com alegria apesar de todas as adversidades. E, assim, podemos até mesmo dizer: perseverança é sexy.
E no final da apresentação, há uma grande recompensa. Não o reconhecimento dos homens, mas os aplausos do céu. Quero a história da minha vida como uma obra de arte. E "Ele verá o fruto de seu penoso trabalho e ficará satisfeito".
Deveríamos tombar, mas não tombamos. Não parece possível, nem ao mesmo lógico permanecermos. Mas por anos, décadas talvez, cresceremos inabaláveis.
Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Tiago 1:12
Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu. Romanos 5:3-5
Mas ele me disse: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte. 2 Coríntios 12:9-10
Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos.Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal. 2 Coríntios 4:7-12