Afinal, o que o amor realmente fez por mim?
Ele não me curou das minhas inseguranças. Se qualquer coisa, colocou meus defeitos e faltas debaixo de uma lente de aumento. Porque: o que eu sou afinal em comparação à perfeição, ao sacríficio próprio, à pureza e a tudo que é belo? Vejo, diante do amor, tão claro como nunca todas aquelas falhas de caráter que me acompanharam por uma vida: o ser egoísta, egocêntrica, mesquinha, mimada, infantil, resmungona, incapaz, inconsequente, teimosa, irritada, incompleta, inconstante e infeliz.
E por isso o amor não curou minha baixa auto-estima, ele a revelou. E a minha auto-depreciação me levou à infelicidade. E a infelicidade me levou ao isolamento. O isolamento me levou à culpa. A culpa me levou à infelicidade mais profunda. E me achei aprisionada em um ciclo de auto-comiseração, mágoa e solidão. Eu não mereço o amor.
E o que o amor me ensinou?
Que não há desculpas para as minhas escolhas erradas. Que emoções fora de controle não são justificativas para ferir a outros e muito menos para ser irresponsavel. Ele me ensinou que não aprendi nada.
O amor me disse: seja paciente e bondosa. Mas nunca fui tão impaciente e irritada quanto quando achei que o que sentia era amor.
O amor me ordenou: não busque a seus próprios interesses. Mas quando busquei amor, os meus próprios interesses eram tudo que eu tinha em vista.
O amor então revelou o que realmente faz: "tudo espero, tudo sofro, tudo suporto". Isso é loucura. Esperar, sofrer e suportar não é exatamente o estilo de vida que uma pessoa escolheria para si.
Nos filmes, o amor impostor se apresentou em cenas românticas e lindas: beijos impacientes, poemas apaixonados e sonhos realizados. Na realidade, ele se demonstrou claramente em espetáculos grotescos e gestos despercebidos para pessoas ingratas: nas olheiras fundas de quem se preocupou, nos braços cansados daqueles que carregaram todo o peso e nas mãos perfuradas e ensagüentadas de quem sacrificou a própria vida por outras pessoas.
O amor não me fez me sentir bem comigo mesma. Ele não me deu escolhas fáceis. O amor não me fez feliz. Ele me constrangeu e me expôs, da forma que sou, assim tão errada. O amor foi um professor cruel. Ele ensinou ao ser simplesmente tão infinitamente melhor que todos.
E por causa desse amor que é tão bom, que me fez tão mal, que decidi ser melhor. Quero ser como o amor. Não parecida com o amor dos filmes, esse impostor saltitante, anestésico e com gosto de algodão-doce. Não como o amor filosófico, idealista e cheio-de-querer-ser. Quero ser como aquele amor grotesco, radical e constrangedor, que caminhou até a morte sangrenta na cruz, mesmo quando eu não o mereci. Quero ser como o amor calado, desprezado, que não se omite diante da injustiça. Esse tipo de amor, o verdadeiro, vai me fazer muito mal. Tenho que dizer adeus ao conforto, à segurança e à invulnerabilidade. Mas é esse amor incompreensível e incondicional o único amor que me aceita assim, tão errada.
E só com esse amor que tenho paz.
Se enlouquecemos, é por amor a Deus; se conservamos o juízo, é por amor a vocês. Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 2 Coríntios 5:13-15