Não havia nada de mágico e especial a respeito desse riacho em questão, a não ser a característica comum a todos os riachos, que, enquanto correm, o tempo parece ceder graciosamente sua função. Mas, este riacho em particular, além do tempo, apenas mais uma personagem se atrevia a desbravar as matas para visitar.
Todo verão, todos os dias, ela corria e quedava-se na margem, observando a ondulação gelada em seus pés, na parte rasa e cristalina, salpicada de confetes de pedregulhos e folhinhas flutuando apressadas, curiosas, um tanto desorientadas, como turistas na hora do rush em São Paulo. Mas, ali não havia o ruído de São Paulo, nem o concreto de São Paulo, nem a dureza de São Paulo, nem mesmo os aromas de São Paulo. No entanto, ou, até mesmo portanto, correndo como o riacho, refrescante como o riacho e tão furtiva e escondidinha quanto ele, estava a paz. Paz, daquele tipo que faz o próprio tempo se atrasar por um golinho.

Pouco tempo depois que elas se foram, a personagem e a paz, o riacho finalmente também secou. Dele só restaram húmus e pedregulhos.
Ninguém estava lá para testemunhar esta mudança.
Se um riacho nasce, corre e seca no meio da floresta, mas ninguém viu, ele realmente existiu?