Mas, agora o pregador carrega uma máquina enferrujada e defeituosa por corpo. O existir é penoso. Ele diz que está satisfeito de vida, “basta”, porque seu estômago não pode mais digeri-la.
Mas, o pregador recebeu, então, uma dádiva que só a poucos é dada. Ele foi levado à perspectiva das nuvens, planando ao comando do vento sobre a superfície da Terra. Não havia dor, nem amarguras, nem decisões. Ele apenas existia, flutuava e observava.
Do alto, viu o trabalho dos homens. As paixões. O sofrimento. A incapacidade de abrir mão. As injustiças. Os amores. As alegrias. Casamentos. Nascimentos. As conquistas. A riqueza. A pobreza. As doenças. A violência. O sacrifício de deixar e o de aceitar.
Ele refletiu: “Que curioso, há tempo para tudo! Para colher e plantar…” Mas, enquanto pensava, o vento soprava e com ele as vidas passavam, como um sopro. Como um sopro. “É tudo vaidade”, pensou consigo mesmo. “Mundo, escute-me, é tudo em vão!”, começou ele a dizer, mas, antes de terminar, novamente o vento soprou. Tentou de novo, desta vez gritando bem rápido, antes que uma próxima geração passasse: “Tanto o seu trabalho árduo quanto o seu prazer, passa tudo tão rápido quanto um sopro!” Um sopro. “Eu tive tudo, tudo, e comigo agora não levo nada!” E o vento soprou, carregando consigo suas palavras, deixando-as ecoar pela eternidade.
O mundo escutou todo o discurso do pregador e o ignorou, achando que era cinismo.
Mas, era felicidade. Era pura liberdade.